Capítulo Póstumo

This is the end... my only friend, the end!
No, I ain't gonna drown in the bathtub like Jimmy!
Escreveste uma última entrada no nosso livro que nunca cheguei a ler, apesar do interesse. Ele nunca retornou às minhas mãos, apenas ficou com a tua palavra final (penso que tenha sido esse o desfecho). Todavia, considero que ficará devidamente finalizado com o capítulo final e, ao mesmo tempo, póstumo, depois de tantos anos de vida acontecida e vivida, que agora escrevo. Mas foi realmente necessária uma pausa das letras nas linhas para um final em grande que te preparo.
Entrando agora mais directamente no tema dos vários capítulos:
Foi única e especial a nossa capacidade de comunicar um com o outro. Ultrapassamos a superfície duma epiderme macia, mas também dura, resistente, protectora, e , por vezes, também, àspera. Transpôs, provavelmente, a possibilidade duma explicação científica, mas apesar de ser crente nas coisas terrenas e não acreditar que... the truth is outhere, no último andar da atmosfera, com nuvens como apoio, acreditei e acredito nessa força, mesmo que nunca a volte a sentir.
Tenho explicação autoanalítica para o facto de termos concordado em que realmente poderia ter sido (99% de possibilidades que seria) fatal.
Vivendo anos no fio da navalha, a desafiar Apolo e Diónisus, uns meses após nos conhecermos, por nos termos unido com tal intensidade e rapidez, a nossa desunião permitiu-me ceder à poderosa força de um Diónisus negro. O delírio tomou conta de todo o Eu com toda a paixão; já não eram só ideias, apoderou-se de todo o Ser.
Sendo então escuridão delirante tive força para te tentar, para te trazer para junto de mim, Diónisus, e fazer da tua potencialidade tua capacidade. Na verdade, pode-se até dizer que estava a ser tua educadora (educar = fazer florescer, tirar o de dentro para fora, tornar potencialidades em capacidades), (puxando a verdade à minha laia de psicopedagoga).
Penso que o medo surgiu também do teu fundo, simultaneamente. E foi esse medo que te deu força para lutares contra a minha escuridão. Escuridão, que, por ser delirante, louca, poderosa, alimentava-se de si própria, crescendo rapidamente.
Tua capacidade foi também a de lutar contra o mundo da loucura, forte o suficiente para me puxar para o teu lado, Apolo.
Se te deixasses enlouquecer na minha loucura destruíriamo-nos um ao outro. E disso, que não aconteceu, temos provas, as que levaram a passar (ou tentar passar) a última linha da vida.
Depois disto, o medo, de tal alto era o risco, foi o suficiente para nos enviar para caminhos diferentes, mesmo até desvanescer o poder de destruição e agressividade, deixando-me mais fraca.
Mesmo assim acredito que fazermos amor teria valido por muito que fosse o sofrimento posterior... teria valido uma vida, mesmo que logo de seguida morresse!
Mas, e depois disto, voltamos a amar e dedicar-nos, entregar-mo-nos por inteiro a outras pessoas, e isso também valeu acontecer!
Por isso, e apesar de ter voltado a amar apaixonadamente, continuo a amar-te, talvez de uma outra forma, que não me faça sofrer, porque existem os vários níveis de dor e como já estou habituada a ser uma jogadora de níveis mais elevados, a saudade vai sendo tolerada...
Sim, porque quando te disse AMO-TE, ouviste de mim as palavras mais sinceras, verdadeiras e sentidas que poderás ouvir de alguém. Amor este ininterrupto, ininterruptível e bigger than life..., incondicional. Só ele me permitiu deixar-te partir por outro rumo. Só assim é intemporal.
Fazer amor contigo fica em sonho que guardo na minha caixa de sonhos, bem lá no fundo, pois será provavelmente o mais pesado que terei, bem acondicionado, protegido com a doçura e nostalgia de um último beijo teu.


Post Scriptum:
Este capítulo é para ser encontrado entre a capa dura, fechando assim a escrita desta obra. Depois coloca-a no local mais apropriado para ele. Não digo para o deitares ao lixo, entre detritos indesejáveis, porque na verdade não gostaria que fosse esse o lugar mais apropriado que julgares. Contudo, não preciso de saber, uma vez que tenho uma cópia do manuscrito com imagens, sons, sensações, sentimentos, emoções, ...
Fica bem!


To T

(written originally in late 2005)

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